Hoje acordei atravessada por um pensamento que não me larga desde que assisti a um vídeo no YouTube. Era de alguém que eu já tinha visto defendendo com unhas e dentes o tal do modelo “one-person business”. Aquele estilo de negócio que, em teoria, dá a liberdade de trabalhar sozinha, sem precisar montar equipe, sem depender de contratar um exército de gente e, principalmente, sem perder o controle do próprio tempo.
Até aí, tudo bem. Eu até simpatizo (e muito!) com essa visão. Mas o que me incomodou foi outra coisa: ver essa mesma pessoa, que até ontem dizia que não queria escalar, agora se justificar dizendo que “apareceram novas oportunidades”, que “quando você resolve um problema aparece outro”… e por aí vai.
Sabe quando alguém parece estar se convencendo mais a si mesma do que explicando aos outros? Pois foi essa sensação.
E aí eu fiquei pensando: será que essa pessoa realmente acreditava no modelo que defendia? Ou será que usou o discurso do “one-person business” como isca para atrair mais gente, sabendo que em algum momento iria migrar para o discurso da escala, da contratação e da busca por mais e mais?
Porque, no fim do dia, é isso: tudo se trata daquilo que você está disposta a abrir mão… ou do tamanho da sua ganância.
A verdade incômoda sobre o one-person business
Olha, vou ser direta:
dá, sim, para viver muito bem trabalhando sozinha.
Você pode ganhar bem, ter liberdade, construir uma rotina que respeite seus valores, e ainda assim ser muito relevante no mercado. Eu mesma sou prova disso.
Mas também é verdade que existe um limite natural quando você não quer contratar.
E aí entra a questão que ninguém gosta de admitir: quem decide deixar o modelo solo e começar a escalar quase sempre está motivado por uma coisa só — dinheiro.
E não me entenda mal: ganhar dinheiro não é pecado. Eu adoro ganhar dinheiro, e você provavelmente também. Mas quando a motivação central vira “ganhar mais a qualquer custo”, o risco é perder a essência.
E é exatamente isso que me incomoda: como alguém que fazia questão de repetir que não queria escalar agora se orgulha de contratar equipe, de aumentar faturamento e de “resolver o próximo problema”?
Pra mim, isso não tem outro nome além de ganância travestida de estratégia.
Quando eu mesma me perdi
E sabe por que isso me cutuca tanto?
Porque eu já estive nesse lugar.
Eu entrei no digital com uma motivação clara: ajudar mais pessoas e, de quebra, ser paga por isso. Afinal, eu sempre ajudei, mas raramente fui reconhecida financeiramente. De repente, eu enxerguei a oportunidade de transformar aquilo que eu já fazia em um negócio.
Só que com o tempo, envolvida pelo ambiente, pelas métricas, pelo oba-oba da escala, eu mesma comecei a perder a minha essência.
Em vez de criar porque eu queria ajudar, eu passei a criar porque eu queria vender.
Em vez de olhar para as pessoas, eu olhava para o faturamento.
E quando percebi, eu não estava mais vivendo o sonho da liberdade digital.
Eu estava apenas reproduzindo o jogo da escada infinita: sempre querendo mais, sempre achando que a próxima meta ia me trazer satisfação.
Foi dolorido perceber isso, mas também foi libertador.
Eu finalmente entendi que não queria entrar nesse ciclo de ganância disfarçada de propósito.
O discurso que não bate com a prática
É por isso que me incomoda tanto ver gente defendendo o modelo “one-person business” apenas como estratégia de marketing.
É como se a pessoa dissesse:
“Olha, eu sou igual a você. Eu também acredito na simplicidade. Eu também não quero crescer sem parar. Eu também quero liberdade.”
Mas, no fundo, ela já sabe que em algum momento vai vender o discurso da escala, da equipe, da máquina que precisa estar rodando o tempo todo.
E quem acreditou de verdade naquela promessa inicial? Fica se sentindo meio enganado.
O que ninguém conta sobre o modelo solo
Vou te falar a real: se você quer ter um one-person business sustentável e lucrativo, você precisa entender duas coisas:
- Não dependa só da venda de serviços.
Se o seu negócio gira apenas em torno de vender seu tempo, você vai bater no teto rapidinho. É impossível escalar sem se esgotar.
2. Tenha clareza sobre seu porquê.
Se você entrou no digital apenas para ganhar dinheiro, vai ser muito fácil se perder no caminho. Mas se entrou para transformar a vida das pessoas e ser bem paga por isso, aí a coisa muda de figura.
O problema é que muita gente não aguenta o desconforto de dizer “não”.
Não para o cliente que pede algo fora do escopo.
Não para a tentação de criar mais um serviço.
Não para a sedução da escala.
E assim, aos poucos, o propósito vai ficando em segundo plano.
O peso das escolhas
No fim das contas, tudo se resume a escolha.
Você pode escolher ser dona de um negócio enxuto, alinhado com a sua essência, que te dá liberdade e tranquilidade.
Ou pode escolher crescer sem parar, contratar, aumentar o faturamento e viver nesse ciclo sem fim.
Mas não dá pra querer os dois ao mesmo tempo sem cair em contradição.
E, sinceramente, quando vejo alguém que pregava simplicidade agora enaltecendo a escala, eu só consigo pensar:
será que essa pessoa realmente acreditava no que dizia, ou será que estava só construindo narrativa para vender mais?
O meu convite pra você
Eu não escrevo essa carta para te dizer que escalar é errado.
Eu escrevo para dizer que escapar da própria essência é o erro.
Se você se reconhece no modelo one-person business, abrace isso com coragem. Não deixe que a narrativa da escala, da equipe, do faturamento sem fim te faça duvidar do valor do que você tem.
Porque dá, sim, pra ganhar muito bem sozinha.
Dá, sim, pra viver do digital com liberdade.
Dá, sim, pra ser reconhecida sem precisar virar refém da ganância.
E sabe o que é mais bonito?
Quando você escolhe a simplicidade, você inspira outras pessoas a fazerem o mesmo.
E talvez essa seja a maior revolução que podemos provocar nesse mercado: mostrar que não precisamos de um exército para viver bem, mas sim de clareza, consciência e coragem para sermos fiéis a nós mesmas.
Com carinho e provocação,
Meg Schiager