O poder da influência — e a responsabilidade de quem o entrega

Nem todo mundo que tem palco merece estar em cima dele.

Isso é algo que aprendi vivendo no digital, dia após dia, assistindo o que acontece nos bastidores — e o que não se vê nas promessas bonitas dos stories.
E por isso hoje, eu queria te convidar a refletir comigo sobre algo profundo, incômodo, e absolutamente necessário: o poder da influência. E mais do que isso — o cuidado que precisamos ter ao decidir quem colocamos sob os holofotes.

Sim, eu trabalho nos bastidores. Sou estrategista digital. Já lancei, posicionei, escalei negócios e pessoas. Já dei palco. Já tirei. Já ajudei a construir reputações. Já precisei conter danos. E cada uma dessas experiências me ensinou o mesmo: dar palco é dar poder.

E poder na mão errada pode ser perigoso.

Nos últimos dias, a CPI das bets e a participação de Virgínia Fonseca me fizeram parar. Respirar fundo. Observar o que está em jogo. E é mais do que contratos, mais do que publicidade, mais do que os milhões em torno desse mercado.
É sobre responsabilidade. Sobre ética. Sobre entender que o que a gente promove tem consequências — mesmo quando é feito com sorriso no rosto e filtros bonitinhos.

Porque por trás da CPI, dos vídeos virais e dos memes, o que a gente viu foi um retrato assustador de como a influência digital está sendo usada para promover vício, manipular decisões e lucrar em cima da dor das pessoas.

E o que mais me assusta?

É ver como ainda tem gente que acredita que sucesso é sinônimo de bênção. Que poder financeiro ou número de seguidores é sinal de merecimento. Que estar “no topo” é uma validação divina.
E não é.
Hitler teve um estrategista. E sem marketing, talvez ele não tivesse sido ninguém.

O palco não santifica ninguém. O microfone não purifica intenções.
E muitas vezes, o brilho que você vê é reflexo do dinheiro, não da luz.

Se você trabalha com o digital — seja como estrategista, gestora, copywriter, social media, produtora, ou qualquer função que ajude a construir marcas e narrativas — entenda o seu papel: você é quem acende a luz do palco.
Você é quem direciona a câmera.
Você é quem ajuda a contar a história.

E isso exige um nível de responsabilidade que vai além do contrato.

Porque se a gente entrega esse poder pra alguém que está disposto a promover algo que destrói vidas — como os jogos de aposta promovidos por influenciadores — a gente também está alimentando esse ciclo.
A gente se torna cúmplice do impacto.

A CPI das bets escancarou uma realidade incômoda: de que o digital virou terra de ninguém. Onde quem tem dinheiro compra influência, compra audiência, compra autoridade. E pior — vende isso como oportunidade.
E quando alguém questiona, a resposta é: “estou onde estou porque Deus quis”.

Como se Deus fosse sócio em campanha publicitária predatória.

Eu não consigo ouvir esse tipo de argumento sem lembrar de todas as pessoas que perderam dinheiro, saúde mental, vínculos familiares — e, em alguns casos, a própria vida — por causa de uma propaganda “inofensiva” de aposta online, feita por uma influenciadora que “só fez uma publi”.
Mas quem vive o digital de verdade sabe: não existe “só uma publi” quando você alcança milhões de pessoas com um toque na tela.

Influência é poder.
E poder exige consciência.

E por isso, eu escrevo essa carta.
Pra você que está começando no digital.
Pra você que já trabalha com isso há tempos.
Pra você que, talvez, em algum momento, pensou: “se é pra dar resultado, tudo bem”.

Não. Nem tudo bem.
Porque resultado sem ética é destruição com lucro.

E a gente não veio pro digital só pra lucrar.
A gente veio pra transformar.
Pra criar possibilidades novas.
Pra ajudar as pessoas a verem outros caminhos, não a caírem nos mesmos buracos.

Então, da próxima vez que for escolher um cliente, pense:
Essa pessoa merece palco?
Ela está preparada pra ter influência?
O que ela fará com o microfone na mão?

E mais importante:
Você quer ser responsável por amplificar essa voz?

A gente precisa parar de colocar em evidência quem não tem estrutura, consciência ou ética pra lidar com o alcance que recebe.
A gente precisa ser mais criterioso, mais humano, mais firme.
Porque o palco que você constrói hoje pode ser o mesmo que amanhã destrói vidas.

E não adianta tapar os olhos com o brilho do sucesso.
Porque o que cega hoje, pode ser o que te cobra amanhã.

Com verdade,
Meg Schiager

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